Resenha As ambulâncias
Era uma moça simples, ainda entusiasmada com tudo o que via, e chegou de viagem como quem havia chegado da lua, fazia tempo que eu não testemunhava tamanha euforia.
‘’ Sabe aquele livro que as palavras registradas nas páginas surpreendem você porque parecem que alguém roubou suas ideias? Eu tive essa sensação. Como Martha Medeiros conseguiu arrancar de dentro de mim toda essa angústia que eu sinto e imagino na minha cabeça, talvez por ser uma ‘estrangeira’ em uma cidade grande. Por vezes eu sou essa mulher impressionada com tamanha modernidade que até então só se vida pela televisão. E realmente, a quantidade de ambulâncias passando para lá e para cá, em uma rapidez que só. Martha descreve minuciosamente as características de ser uma desconhecida no mundo moderno’’
Em qualquer ponto da cidade, de onde quer que se esteja, impossível deixar de escutar, há sempre uma sirene gritando, misturando-se ao som ambiente. Uma sirene, duas sirenes, são tantas, vindas de tão longe, aproximando-se, sendo escutadas sem serem vistas, muito moderno, muito.
’’ Quando ela fala sobre a precária saúde e a falta de infra-estrutura na cidade, é como se ela tivesse presenciado a rotina da minha vida quando eu morava no interior ou talvez por essa situação se estender a todas as cidadezinhas de maneira geral. Pouco investimento, pouca esperança. ’’
Onde a moça vive não tem avenida, é cidade do interior, menor. Lá, ensurdecedor é o canto dos pássaros, o ruído dos cascos no paralelepípedo, algum rádio ligado na casa vizinha. O posto de saúde é logo ali na esquina, todo mundo entra e sai sem alarde, os doentes chegam a pé, parece até que as doenças graves sabem que não devem acontecer naquele canto do mundo, porque com gravidade a cidade não lida, é pouco médico, pouco remédio, e quando o troço é sério de nada adiantam os chás e as rezas. ’’ Por