Resenha Acadêmica - A história da loucura na idade clássica
Com uma cronologia oscilante - fazendo-se um movimento pendular nos períodos da história do mundo ocidental - o livro apresenta-se como um estudo das ideias, instituições, literatura, arte e práticas relativas à loucura. Foucault descreve o fenômeno da loucura desde a Renascença até a modernidade, evidenciando que a forma de o homem tratá-la foi se modificando através dos séculos.
Dividido em três partes - primeira, segunda e terceira - e com mais de 500 páginas, A história da loucura perscruta o passado, esforçando-se em resumir o surgimento e as modificações do conceito da loucura.
Foucault começa sua narrativa na Idade Média, falando sobre a disseminação da lepra através das Cruzadas. A disseminação da doença foi intensa por toda Europa, o que exigia construção de inúmeros estabelecimentos para abrigar todos esses enfermos. A figura do leproso carregava um estigma que o levou à uma exclusão física-social. Ele argumenta que mais tarde a loucura ocupou essa posição excludente. A nau dos loucos, durante a primeira metade no século XV, tinha esse objetivo: levar, excluir da sociedade, passageiros incômodos. O louco, portanto, não possuía chão, pois ora tinha água em volta de si, ora tinha grades.
A lepra cessa, mas a estrutura onde o leproso era mantido continua. Esse permanente lugar projetado para a exclusão passa então a abrigar os portadores de doenças venéreas. Dessa forma, pode-se concluir que as pessoas acometidas de lepra, doenças venéreas e loucura representam os excluídos da sociedade (Foucault, 1972, p. 6). Durante alguns séculos, os insanos (pecadores contra a razão) viviam lado a lado com os doentes venéreos (pecadores