Representações sociais
Análise Social, vol. xxxii (140), 1997 (1.º), 7-29
Representações sociais e percepções intergrupais
As pesquisas apresentadas neste texto situam-se no quadro de uma articulação entre identidade social, relações intergrupais e representações sociais. Esta articulação é importante para a compreensão da formação e da dinâmica de dois tipos particulares de representações sociais — as representações sociais polémicas, que ancoram no conflito implícito ou explícito entre grupos sociais, e as representações sociais emancipadas, que ancoram nas relações de cooperação entre grupos sociais. Uma tal articulação pode contribuir igualmente para uma melhor compreensão das relações entre grupos. É verdade que diversas pesquisas realizadas no quadro do paradigma aberto pela teoria da identidade social (Tajfel, 1972 e 1982) consideram que as representações sociais desempenham um papel nas interacções entre grupos. No entanto, os autores referem-se a um tipo particular de representações, as que respeitam aos traços ou atributos personológicos que definem os membros de um grupo, ou seja, os estereótipos. Pouca atenção foi dada aos valores percebidos como distintivos de um grupo, às crenças que lhe servem de razão de ser ou, mais especificamente, às representações que os grupos criam sobre os objectos relevantes para o seu campo de acção e que são objecto de polémica ou cooperação social. Do mesmo modo, a pesquisa sobre o preconceito intergrupal centrou-se sobre os estereótipos enquanto fonte principal das atitudes negativas face a um grupo (e. g., Insko e Stroebe, 1989, e Leyens et al, 1996). No entanto, uma teoria já antiga colocou a hipótese de que seria a percepção da dissemelhança de valores e crenças que estaria na base dos preconceitos. Refiro-me à teoria da congruência de crenças proposta por Rokeach (1960). A hipótese de Rokeach suscitou, contudo, controvérsia. Por exemplo, a pesquisa que inspirou dentro do quadro da SIT (teoria da identidade social)