Religiao ritual e cura
A importância dos cultos religiosos na interpretação e tratamento da doença tem sido amplamente reconhecida na literatura. As explicações reducionistas da medicina, os sistemas religiosos de cura oferecem uma explicação à doença que a insere no contexto sociocultural mais amplo do sofredor. Mais do que atribuir uma causa objetiva a estados confusos e desordenados, a interpretação religiosa organiza tais estados em um todo coerente. O tratamento médico despersonaliza o doente. O tratamento religioso visa agir sobre o individuo como um todo, reinserindo lhe como sujeito, em um novo contexto de relacionamentos.
A passagem da doença à saúde pode vir a corresponder a uma reorientação completa do comportamento do doente na medida em que transforma a perspectiva pela qual este percebe seu mundo e relaciona-se com outros. Fundamental é identificar os meios pelos quais as terapias religiosas efetuam tal transformação. Tantos estudos tem se voltado para uma compreensão do ritual enquanto espaço por excelência, em que os doentes são conduzidos a uma reorganização da sua experiência no mundo.
O RITUAL ENQUANTO PRÁTICA TRANSFORMATIVA
O ritual enquanto prática transformativa induz seus participantes a perceberem de forma nova o universo circundante e sua posição particular nesse universo. Geertz (1973) explorou essa ideia ao sugerir que a briga de galos balinesa, organiza experiência e sensações do cotidiano dos balineses em um “todo” ordenado, constituindo para estes uma espécie de “educação sentimental”. Turner (1967, 1969, 1974, 1975) escreveu extensamente como os rituais operam de modo a conduzir os indivíduos a determinados estados e atitudes frente ao mundo, através de fortes estímulos sensoriais e intelectuais. O ritual produz uma transformação da experiência de seus participantes. O uso de metáforas estendem a experiência informe do movimento que conduz a performance. As metáforas estendem a experiência informe do sujeito a domínios mais concretos e