Relações internacionais no pós-guerra fria
INTRODUÇÃO
O estudo de relações internacionais está hoje em evidência devido às profundas transformações que vêm marcando o sistema internacional, seja em decorrência do fim do conflito bipolar, seja como resultado da aceleração dos fenômenos da transnacionalização/globalização e da fragmentação sociocultural. Assim, abrem-se novos campos de estudo, inauguram-se novos projetos de pesquisa e o movimento de importação de teorias e problemas de outras ciências sociais se intensifica. Por outro lado, a crise das estruturas de autoridade baseadas no Estado-nação, o questionamento da hegemonia do paradigma realista e a tendência a uma maior interdisciplinaridade geram uma crise de identidade entre os especialistas (Gaddis, 1992).
Neste artigo, busco explicitar três tendências que considero centrais para o trabalho dos estudiosos do sistema político internacional nos anos 90, e que podem ser observadas na literatura mais recente produzida por especialistas em relações internacionais: o debate em torno do papel das instituições internacionais; o retorno da dimensão cultural à pesquisa em relações internacionais; e a nova legitimidade de estudos de caráter normativo. Evidentemente, mudanças estruturais de um sistema bipolar para outro, multipolar, ou unipolar, também são discutidas no contexto de quadros tradicionais de análise.
Não será possível traçar aqui uma genealogia desses fenômenos; contudo devo enfatizar que, nos três casos, tanto variáveis endógenas como exógenas à disciplina de relações internacionais tiveram profunda influência na configuração do atual estado da arte.
Quanto às variáveis endógenas, cabe mencionar as críticas ao paradigma realista e, particularmente, à sua versão neorrealista feitas por teóricos críticos, liberais e marxistas1. Ademais, o realismo não foi capaz de prever o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria, quando, segundo seus pressupostos, uma das superpotências comportou-se de