Relações Etinico Raciais
Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. (Gilberto Freyre, 1978, p. 283) Em 1933, é publicado o livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre. A obra, que se tornaria um dos grandes clássicos da sociologia brasileira, rebatia as teorias, até então dominantes, que apregoavam a inferioridade do mestiço e justificavam cientificamente o racismo. As teorias raciais que adentraram o Brasil em meados do século XIX explicavam a desigualdade social entre brancos e negros como um fato dado pela natureza supostamente inferior dos negros. Por meio de medições de crânio e comparações entre os diferentes fenótipos, esses teóricos afirmavam que haveria uma desigualdade biológica entre as pessoas. Com o fim da escravidão (1888) e a proclamação da República (1889), essas teorias seriam usadas politicamente para justificar as desigualdades sociais que continuaram a existir em relação aos escravos libertos. Ao mesmo tempo, o fim da escravidão no Brasil era visto como um processo mais brando do que ocorrera em outros países, uma vez que aqui não teria sido implantada uma política oficial de segregação depois da Abolição. No Brasil, as teorias raciais nem sempre se opunham à miscigenação. Ao contrário, o incentivo à imigração europeia foi feito com o objetivo de branquear a população. A cor branca passa, assim, a ter um valor social mais elevado e os conflitos não são tematizados em termos raciais. Na década de 1930, esse cenário se altera de modo mais radical. A mestiçagem deixa de ser vista como um meio para atingir o branqueamento e passa a ser considerada não só em termos biológicos, mas também como uma mestiçagem cultural. É neste contexto, que Gilberto Freyre publica Casa-grande e senzala. Freyre, que estudou nos Estados Unidos com um dos precursores da antropologia americana moderna, Franz Boas, teceu sua interpretação a partir da perspectiva