Relações culturais escritas em preto e branco
José Diego V. da Silva
A análise construída por Gilberto Freyre no que diz respeito à condição do afrodescendente enquanto agente participante e influenciador das modificações ocorridas na configuração social nacional, versa sobre a interação sócio-cultural ocorrida entre o negro e o branco, sobretudo no que diz respeito ao quadro de relações estabelecidas entre eles durante o período da escravidão, canalizando a sua análise para o cotidiano de ambas as partes, cujo cenário mais comumente citado é o engenho. A questão da discriminação relacionada à influência pura e incontestável da cultura africana sobre a cultura (branca) brasileira, é vista segundo Gilberto Freyre, como uma consequência da relação imediata que é feita entre essa cultura (africana) e a condição de escravo do negro no período colonial, que é tido segundo os moldes da sociedade da época como um ser merecidamente minimizado em todos os sentidos de relevância social. A influência dos costumes africanos é vista como um mal, um verdadeiro contágio a que todas as camadas da sociedade colonial tem inevitável contato, e por isso são ”maculadas” com a inserção dessas características em seu cotidiano. “Sempre que consideramos a influência do negro sobre a vida intima do brasileiro, é a ação do escravo e não a do negro por si, que apreciamos.” ¹
Essa situação discriminatória que sempre permeou o cotidiano do negro durante todo o período da escravidão no Brasil, é atribuída segundo Freyre, ao fato da imagem desse negro ter sido intensamente deformada devido a sua condição de escravo, e neste contexto, a influência vinda da raça se perde ou tem sua importância desconsiderada devido à imponência social e classificatória do sistema escravocrata. Outro ponto a ser levado em consideração é a questão da retirada do negro do seu meio social, e sua conseqüente inserção em outro sistema social totalmente divergente do seu, com isso, seria essa condição (um