relatório
A corte portuguesa mudou ou fugiu para o Brasil? Qual seria o termo adequado para definir o que aconteceu entre novembro de 1807 e julho de 1821, datas de partida e do retorno de D. João VI a Portugal? Os historiadores nunca chegaram a um acordo. Oliveira Lima se refere ”transladação da corte”. Luiz Norton chama de “transferência voluntária” ou de “transposição da sede portuguesa”. Ângelo Pereira fala em “retirada da família real para o Brasil”. Tobias Monteiro trata de ”transplantação”. Outros usam expressões como “transmigração” ou ”mudança”. È visível dentro do ambiente histórico que são abundantes as interpretações para tal acontecimento histórico o fato é que D. João VI foi o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas em mais de quatro séculos, e foi quem transformou uma colônia em um país independente. No entanto, seu reinado no Brasil padece de um relativo esquecimento e, quando lembrado, é tratado de forma caricata, como no filme Carlota Joaquina, de Carla Camurati. Mas o Brasil de D. João VI não se resume a graçolas. A fuga da família real para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleônicas, revoluções republicanas e escravidão formaram o caldo no qual se deu a mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil.
Encurralado entre as duas maiores potências econômicas e militares de sua época, D. João tinha pela frente duas alternativas amargas e excludentes. A primeira era ceder às pressões de Napoleão e aderir ao bloqueio continental. A segunda, aceitar a oferta dos aliados ingleses e embarcar para o Brasil levando junto à família real, a maior parte da nobreza, seus tesouros e todo o aparato do Estado. Aparentemente, era uma oferta generosa. Na prática, tratava-se de uma chantagem. Se D. João optasse pela primeira escolha e se curvasse às exigências de Napoleão, a