Reinações de Narizinho
Tenho em composição um livro absolutamente original, Reinações de
Narizinho – consolidação num volume grande dessas aventuras que tenho publicado por partes, com melhorias, aumentos e unificações num todo harmônico. Trezentas páginas em corpo 10 – livro para ler, não para ver, como esses de papel grosso e mais desenhos do que texto. Estou gostando tanto, que brigarei com quem não gostar.
Estupendo, Rangel!
Esta carta enviada para o amigo Godofredo Rangel1 resume toda a euforia de Lobato com o seu “Reinações de Narizinho”2. Reescrito em 19313, o livro continua atual e formando gerações. Como a minha que cresceu assistindo ao Sítio do Pica Pau Amarelo na televisão. Era chegar da escola e se encantar com as aventuras de Emilia, Narizinho e Pedrinho. O gosto pelo programa de televisão me levou a literatura. O primeiro livro escolhido de Lobato foi Reinações de Narizinho. A história gira em torno de Narizinho, que mora no Sitio do Pica Pau Amarelo, com sua avó Dona Benta, fazendeira de mais de sessenta anos e Tia Nastácia, cozinheira de mão cheia e “negra de estimação” como descreve Lobato. Lucia, a menina do narizinho arrebitado (história originalmente criada no Natal de 1920 que deu origem a Reinações), passeia todas as tardes com sua boneca de pano, Emília a beira do ribeirão. Em um desses passeios, caiu no sono e foi acordado por um peixe cutucando o seu nariz: “Que belas tocas para uma família de besouros!”1, exclama o Príncipe Escamado. Enquanto Pedrinho, seu primo da cidade não chega, Narizinho se aventura no reino das Águas Claras. As protagonistas femininas dão voz e vez às meninas. Sejam elas sabidas como Narizinho ou irreverentes como a Emília. Sempre quis ser Emilia, mas na infância me faltou coragem. Em um tempo onde crianças não respondiam aos adultos, não tinham vontades e o pano de fundo era a ditadura, Lobato serviu como um libelo a liberdade, apresentando