REFORMA PSIQUIÁTRICA
A institucionalização da psiquiatria no mundoocidental se deu no contexto do Iluminismo, apartir do século 17. A razão dos antigos gregosfoi resgatada pelos filósofos dessa época e a irracionalidade, manifesta nos loucos e em muitos outros tipos de “perturbadores da ordem”,era contida e corrigida nas prisões, escolas, casas de correção e casas de loucos que surgiram1990).Tendo surgido na França, após a RevoluçãoFrancesa, a psiquiatria instituiu-se sobre o pano de fundo de uma nova sociedade contratual. Nesta sociedade, o louco é uma nódoa. Insensato, ele não é sujeito de direito; irresponsá-vel, não pode ser objeto de sanções; incapaz detrabalhar ou de servir, não entra no circuito regulado das trocas(Castel, 1978).Estudos realizados sobre o processo de desenvolvimento desse ramo da ciência médica,embora fundamentados em diferentes paradigmas, apontam para o fato inequívoco: a psiquiatria só se desenvolveu após a criação dosasilos e o corolário da superlotação. Castel(1978) afirma tratar-se de uma “reforma administrativa”, como o próprio Philippe Pinel sereferiu à sua obra. O isolamento do mundo exterior, a constituição de um novo ordenamentointerno e peculiar ao hospício, com a finalidade de uma correção pedagógica dos internados,foram as bases para a imposição da ordem, a temática principal no trato com os alienados. Arespeito da cientificidade da psiquiatria, Castel(1978) afirma que este novo ramo da ciêncianão provocou nenhuma mudança na organiza-ção do saber médico que se constituía, entretanto,soube marcar, com o selo médico, práticasque dizem mais respeito às técnicas disciplinaresdo que às operações de exploração clínica da medicina moderna.Foi, portanto, neste cenário dos primórdiosda modernidade, no qual o homem ocupava acentralidade, a partir do deslocamento de Deusdo centro do Universo e no qual a racionalidade humana era reconhecida como a única possibilidade de construção do