Reflexões sobre o cotidiano na sala de aula
Lino de Macedo
Texto extraído da Revista Pátio- ano VI nº 22/2002 – pág. 10-13
Dar ao cotidiano na sala de aula o mesmo tratamento disciplinar que temos dado ou devemos dar ao ensino e à aprendizagem de línguas, matemática, ciências e artes pode ser um caminho para a boa realização da escola para todos. Para isso, é necessário desenvolvermos competências e habilidades relacionadas às categorias e aos modos de ser do real em sua expressão diária.
Administrar o cotidiano na sala de aula tornou-se um grande problema para professores e alunos. Indisciplina, dispersão, inconveniência, confusões, dificuldades de todo tipo perturbam a realização das propostas ou das tarefas pedagógicas. O sentimento é de perda de tempo, caos espacial e descuido com objetos escolares, falta de sentido das tarefas e relações entre pessoas marcadas pela indiferença ou pela negatividade. O sentimento é de incompetência, insuficiência e desânimo. Penso que uma das razões para isso é que ainda estamos marcados pela imagem de uma escola ideal, sonho de realização de todos nós, em que alunos, dóceis e gratos aos seus professores, vão lá para aprender a serem felizes. Graças a isso, os professores podem dedicar-se preferencialmente ao ensino das matérias e à avaliação do que foi aprendido pelos alunos. Pensamos que tudo isso foi talvez possível um dia e ainda se realiza hoje em algumas escolas. Porém, para tanto, o preço a ser pago pelos alunos é o de conviver e aprender na escola de um modo condicionado: se não obedecem às regras, se não aprendem o mínimo, se não aceitam a cultura da escola, então são excluídos e reprovados.
E se a escola tornar-se incondicional, necessária para todas as crianças? Ou seja, essa imposição é impossível em uma escola compulsória, que se quer para todas as crianças e que não pode mais selecionar e garantir a permanência usando a exclusão e a repetência como estratégias de controle de sua qualidade. No entanto,