Reflexão
Este é o título do primeiro livro que fui orientada a ler logo quando ingressei no Magistério na década de 90. Escrito por Madalena Freire e, não por acaso, filha do renomado educador Paulo Freire, ambos (livro, autora e pai) ampliariam meu mundo daquele momento em diante sem a menor possibilidade de volta.
Quanto conhecimento apreendi ao folheá-lo, mitos se desfizeram e quantas descobertas acerca do papel da verdadeira arte de educar! Eu, tão jovem e inexperiente, apaixonei-me mais por esse mundo, porém, ele é cruel, já diziam outros e, partindo para os braços desse desconhecido, dediquei-lhe meu coração. Amar as crianças não é suficiente, é requisito básico, depois disso, aprofundar as metodologias de ensino e transferir tudo o que se aprende na mesma proporção em que recebe ensinamentos dos pequenos é, realmente, “fazer arte” (já ouviu essa expressão antes? Mães, normalmente, a usam: “está fazendo arte, não é, menininho?”; “que arte aprontou agora?” ou “essa criança é muito arteira!”) e, para ser artista nessa vida é preciso brilhar, caso contrário, seremos figurantes, apenas mais um preenchendo o espaço vazio no cenário da vida. Eis um dos aspectos que a educadora vai abrindo ao leitor: crianças são artistas natas e lidar com tanta curiosidade e criatividade é trabalho exigente, contudo, gratificante demais.
Ler Madalena Freire naquele momento foi um misto de descobertas e de alerta às dificuldades que, certamente, viriam pelo caminho. E vieram. Na hora dos estágios e depois na busca do emprego deparei-me com situações diversas: de crianças perfumadas e com boa estrutura socioeconômica até às que cheiravam a xixi e sequer tinham piso no chão de casa, a não ser o barro batido; as primeiras tinham nutricionista elaborando cardápio semanal,as outras comiam dos alimentos da horta escolar (e esperavam ansiosas por eles!);enquanto umas transpunham dificuldades escolares com apoio psicopedagógico, aquelas outras