Reflexão
O sector da cortiça, incluindo nele toda a fileira, desde a produção ao consumo, é um sector apaixonante.
Ainda que não pertença à celebrada “nova economia”, tem, entre outras, a particularidade de falar português, quer quando analisamos a sua riquíssima história, quer quando nos envolvemos no seu presente ou tentamos perspectivar o seu futuro.
Não é o facto de Portugal ser o maior produtor, transformador e exportador de cortiça, nem tampouco a expressão dos números que o envolvem (mais de 200 milhões de contos de volume de negócios e 20 mil postos de trabalho) que justificam, por si só, o meu interesse pelo sector, enquanto técnico e português.
Além disso, que já é, sem dúvida, muito importante, vejo no sector da cortiça, a sua extraordinária envolvente ambiental (os montados constituem um dos mais ricos ecossistemas da Península Ibérica) e a circunstancia de ser o mais consistente pilar de sustentação económica de muitas regiões agrícolas pobres. Contudo, também vejo algumas contradições que fazem dele um caso de estudo permanente.
Vejo o nosso país a assistir passivamente à erosão técnica do sector público, com muito poucos continuadores da extraordinária obra do Professor Joaquim Vieira Natividade, de quem todos nos orgulhamos, mas cuja memória não honramos por não termos tido a lucidez de continuar o ritmo do seu esforço no desbravamento dos conhecimentos ligados ao sobreiro.
Vejo o nosso país como leader mundial do sector a não exercer plenamente essa liderança nos fora de discussão internacional, na dinamização de acções concertadas a nível da
União Europeia, na condução dos projectos multinacionais de investigação.
Vejo na produção primária a afirmação de associações de produtores activas e tecnicamente preparadas e o despontar de um acompanhamento técnico consistente, ao mesmo tempo que também vejo demasiados produtores isolados e passivos a venderem a sua cortiça por processos da Idade Média, e,