Reflexão Autor: Andressa Alice da Silva Carneiro
Andressa Alice
Ele estava finalmente diante do juiz:
- Não roubei. Não matei. Só comprei. Comprei um, comprei dois...e gostei. Percebi que quanto mais eu comprava, mais eu queria. Quanto mais eu comprava, mais eu tinha. E quanto mais eu tinha, mais eu era. Comecei com pouco, gastando pouco, comprando pouco. Mas a bola de neve descia e se tornava uma avalanche. Passei a não aparecer para o jantar. Estava trabalhando. Trabalhando cada vez mais: para comprar cada vez mais. Não existia mais fim de semana com a família; estava trabalhando. Meu filho na escola? Não sabia nem em qual série estava, eu estava ocupado. Trabalhando. As únicas coisas que lhes dei foram coisas, que para mim, substituíram o meu lugar de pai.
Uma noite em que cheguei muito tarde em casa, encontrei minha mulher aos prantos, desconsolada. Perguntei-lhe o que lhe havia acontecido e me respondeu com lágrimas nos olhos que o nosso filho estava morto. “Morto?” Espantei-me. Minha esposa me revelou que a meses meu filho estava nas drogas, e em consequência disso fora assassinado. Custei a acreditar. Então as coisas que lhe dei foram para isso? Foi exatamente isso que aconteceu. Desesperado, peguei meu carro e fui à delegacia a procura de justiça. No caminho, enxerguei o que o dinheiro me cegou: crianças com fome, usuários, prostitutas na rua, ali, e eu ocupando meu dinheiro. Foi ali mesmo, naquele sinal fechado, que chorei. Chorei feito criança ao lembrar do pai que roubei do meu filho, do marido que roubei da minha mulher.
Quantas pessoas meu filho não roubou e matou? Quantos inocentes? E meu filho, tinha sonhos? Se tinha, eu os matei. Matei crianças de fome sem fazer doação. Matei pessoas em hospitais públicos por comprar artigos de luxo. Deixei mil vezes de ler jornais, para sair em revistas. Tranquei-me em meu rico mundo e esquece-me da sociedade. Esquece-me dos que precisavam de mim. Não os ajudei. Não os acolhi. Não os vi. E aquele caminhão também não me viu, e agora, estou