Redes sociais e pobreza urbana
Eduardo Cesar Leão Marques
INTRODUÇÃO
A
s literaturas sociológica e de estudos urbanos recentes têm destacado crescentemente a importância das redes sociais para a sociabilidade urbana e para as condições de vida dos indivíduos. Apesar disso, são relativamente raros os estudos sobre o tema, em especial enfocando conjuntamente os efeitos da segregação residencial e das redes. Como sabemos desde pelo menos o trabalho seminal de Wilson (1987), ambas conformam estruturas de médio alcance que medeiam o acesso dos indivíduos a estruturas de oportunidades. Analisar os efeitos diferenciados dos padrões de relação dos indivíduos em situação de pobreza que habitam locais submetidos a diferentes graus de segregação é o objetivo deste artigo. Baseio-me em pesquisa recente mais ampla, que analisou as redes sociais e a sociabilidade de indivíduos em situação de pobreza em São Paulo (Marques, 2009). A relevância do tema é ao mesmo tempo acadêmica e ligada à construção das políticas sociais (Perri 6, 1997). Por um longo período, a ênfase da literatura e das políticas de combate à pobreza esteve em atributos pessoais dos indivíduos e das famílias em situação de pobreza, tentando dotá-los de características que supostamente seriam estratégicas para que saíssem da pobreza e ascendessem socialmente. Embora outras dimensões tenham sido incorporadas ao longo do tempo, uma
DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 52, no 2, 2009, pp. 471 a 505.
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Eduardo Cesar Leão Marques
parte importante das iniciativas públicas continua orientada por esse viés. Essa compreensão “atomista” da pobreza talvez seja explicada pela hegemonia de uma visão (marcada pelo discurso econômico) que foca a existência ou a inexistência de rendimentos monetários ou, no máximo, de ativos individuais entendidos dentro do marco das discussões do capital humano e associados à educação, às boas condições de saúde etc. Segundo essa