redação cursinho
Durante o período em que morei na zona leste de São Paulo, praticamente todo final de semana visitei a Rua Oscar Freire. Lojas excelentes, grifes, foi nesse tipo de coisa que prestei atenção. Apesar da frequência, foi apenas quando fiz a cobertura da matéria sobre o “Poeta dos Jardins” que realmente vi Ronaldo Breves. Há algum tempo, o acompanho. Vi sua arte, cuidadosamente exposta numa porta na calçada, emoldurada por materiais pouco convencionais como papelão, que está disponível. Também nunca tinha visto o potencial do papelão em todas as caixas que já cruzaram minha vista.
Essa meticulosidade é presenciada por centenas de pessoas todos os dias, muitas das quais não prestam atenção à pequena exposição ao seu redor. Ninguém vê a maneira metódica com que cumpre sua rotina, como todos nós, sempre de maneira tão humilde e educada. Tem amigos, pessoas que se importam com ele, tem sonhos e aspirações, como todos nós. Só não tem um lugar para morar, e por isso, passa desapercebido a milhares de pessoas.
Contudo, é justamente essa atenção, essa consciência de que vive, que não apenas existe em meio ao contraste entre sua situação e a pompa do local onde mora, que fez Ronaldo não se deixar perder em meio aos olhares que recebeu durante todos os anos que morou nas ruas. Não deixou que a falta de atenção das outras pessoas o fizessem pensar que realmente não merecia ser percebido.
Fazemos coisas assim com frequência. Passamos por tantas pessoas todos os dias que perdemos aquelas excepcionais, aquelas que deveríamos prestar atenção. Aquelas que enriqueceriam nossas vidas com um pouco de arte, com uma nova visão de mundo, com um pouco de amizade ou novas experiências. Como uma ode à falta de atenção, deixamos de enxergar pessoas que, como Ronaldo, poderiam engrandecer nosso dia-a-dia.