Redaçao
Revista Mensal - Ano II - Número 13 - Junho de 2002 - ISSN: 1519.6186 Rosângela Rosa Praxedes*
“Descemos em Dacar à noite. ..., grandes negros, admiráveis em sua dignidade e elegância, em suas longas túnicas brancas, as negras com roupas antigas, de cores vivas, o cheiro de óleo de amendoim e de excremento, a poeira e o calor. São apenas algumas horas, mas reencontro o cheiro de minha África, cheiro de miséria e de abandono, aroma virgem e ao mesmo tempo forte, cuja sedução eu conheço.” Albert Camus (1997:53)
Resumo:
Este artigo discute a trajetória do escritor argelino Albert Camus, para entendermos a crise de identidade resultante de sua vida na fronteira entre universos culturais distintos, próprios de seu país de origem, a Argélia, e do país no qual vive na maturidade, a França, e que provoca no autor uma situação de liminaridade e ambiguidade em relação ao processo colonial existente entre os dois países.
Palavras-chave: Crise de identidade – Albert Camus – Argélia - França
Introdução
Muito já se escreveu sobre a obra de Albert Camus, e todos reconhecem sua importância para a literatura mundial. Há porém uma questão sempre recorrente quando o assunto é a Argélia: Camus, filho de franceses, nasceu e cresceu na África, assimilou a ideologia colonialista francesa e renegou as influências africanas, esquecendo-se das injustiças e violências cometidas contra argelinos em nome da colonização?
Não há dúvida quanto ao fato de que o autor Camus elabora sua obra sob influência do sistema cultural eurocêntrico, mas, o que muitas vezes se esquece é que em seus romances a Argélia resiste insistentemente como uma bela e sedutora paisagem de fundo. Camus divide-se entre dois mundos diversos, e tenta conciliar em sua expressão esta dualidade. O fato de ter passado a infância em um bairro pobre, fronteiriço aos bairros árabes de Argel, marcou profundamente sua obra e seu olhar diante dos povos colonizados.