Recreio
Mário de Sá Carneiro
Poema:
Na minh’Alma há um balouço Se a a corda se parte um dia,
(E já vai estando esgarçada),
Que está sempre a balouçar
-
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...
- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...lllll
- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...
Autor
Mário de Sá Carneiro nasceu em Lisboa em 1890. Viveu a maior parte da sua vida em Paris, onde estudou Direito e onde escreveu a maior parte da sua obra. Paris sempre foi para Mário de Sá Carneiro uma cidade de fascínio e foi nela que descobriu o cubismo e o futurismo, tal como Fernando Pessoa, seu grande amigo.
Mário de Sá Carneiro é um dos poetas mais significativos do modernismo em Portugal. A sua obra reflecte um modo de estar e de sentir repercutido numa insatisfação constante. A sua busca, a sua procura, radica num desejo estético pela sublimação do eu.
Mário de Sá Carneiro não soube adaptar se à vida: inadaptado, acabou por destruí la matando se. Foi a impossibilidade de equilíbrio emocional que o conduziu ao suicídio. Perante o fracasso do homem, o artista floresceu em beleza e frutificou. A sua obra, aquilo que realmente ele chegou a possuir, ficou e ainda vive. Suicidou se num quarto de hotel em Paris, em 1916.