reconstruçao da memoria
Novas descobertas revelam que é possível modificar as nossas recordações negativas e aumentar a capacidade do cérebro de guardar as lembranças que nos fazem bem
Cilene Pereira e Rachel Costa
"É preciso fazer com que uma vivência ruim se torne uma lembrança aceitável"
Rita Jardim, psiquiatra, Rio de Janeiro
"Um cotidiano afetuoso aprimora a memória do indivíduo e de seus descendentes"
Dean Harley, neurocientista da Tufts University (EUA)
Guardar apenas as lembranças boas, felizes. As ruins, aquelas que nos fazem recordar momentos difíceis e dolorosos, seria melhor que desaparecessem. Certamente você já se pegou imaginando como seria bom se isso fosse possível. Se depender da ciência, esse desejo está cada vez mais próximo de se tornar realidade. Numerosas pesquisas realizadas por centros de estudo espalhados pelo mundo estão comprovando que se pode, sim, alterar ou apagar as memórias negativas, permitindo que a mente só traga à tona as recordações que nos fazem bem. Além de representarem um marco na evolução do conhecimento a respeito da memória humana, as experiências abrem uma fronteira importante para a criação de tratamentos de doenças geralmente marcadas por eventos traumáticos, sofridos, como a ansiedade, o estresse pós-traumático, a síndrome do pânico e a depressão. Nesses casos, a simples lembrança do episódio pode desencadear crises e fazer com que a pessoa sinta novamente as mesmas e terríveis sensações. Evitar que essa recordação apareça – ou fazer com que ela ressurja de modo menos assustador –, seria, portanto, uma maneira de poupar a pessoa de um novo sofrimento.
O ponto de partida dessa revolução foi a constatação, nos últimos anos, de que a memória é algo vivo, maleável, sujeito a interferências. Muito distinto da ideia predominante entre os estudiosos por décadas de que a memória era como um pacote fechado, guardado no fundo de um armário e impossível de ser aberto. Com o auxílio de equipamentos como a