Realidade atualmente
(W. Luijpen)
Reservou-se este último capítulo especificamente para se tratar da ciência e da realidade por ela construída por um motivo especial: a posição que suas verdades e construções vêm ocupando no mundo moderno. Atualmente tendemos a acreditar apenas naqueles fatos que sejam cientificamente provados, mesmo que não entendamos nada do que vem a ser ciência. Parece que a palavra ciência
90 João-Francisco Duarte Júnior tem adquirido entre nós um caráter quase mágico, apesar do paradoxo aparente que possa estar contido nesta afirmação. Tendo ela colocado o seu aval sobre qualquer fato, este ganha aos nossos olhos um alto grau de credibilidade, por mais absurdo que nos pareça.
Sem dúvida não será forçar muito o raciocínio se dissermos que a ciência (ou pelo menos o mito que se construiu em torno dela) ocupa na moderna civilização o lugar outrora ocupado pela teologia. Até o advento da modernidade as escrituras sagradas tinham para o homem o caráter de lei na interpretação das verdades do mundo: a palavra final cabia, em última análise, aos legitimadores e peritos em textos sagrados. Não foi o que aconteceu com Galileu, caracteristicamente o pioneiro no método experimental científico? Os religiosos simplesmente se recusaram a olhar pelo seu telescópio porque suas afirmações eram contraditadas por todas as escrituras e a tradição judaico-cristã. Não havia o que discutir: a realidade se dava de acordo com os textos sagrados, e qualquer desvio não era outra coisa senão heresia.
Mas agora a questão se inverteu: tudo aquilo que não seja cientificamente comprovado não deve merecer o nosso respeito, já que se trata tão-somente de "filosofia", "poesia" ou simples superstição ou misticismo. E evidente que esta posição central da ciência adveio