Raça e Progresso
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1931
Permitam-me chamar atenção para os aspectos científicos de um problema que há muito tem agitado nosso país e que, pelas suas implicações sociais e econômicas, tem suscitado fortes reações emocionais e produzido diversos tipos de lei. Refiro-me aos p r o blemas surgidos com a mistura de tipos raciais.
Se desejamos adotar uma atitude sensata, é necessário separar claramente os aspectos biológicos e psicológicos das implicações sociais e econômicas da questão. Mais ainda, a motivação social daquilo que está acontecendo precisa ser examinada, não do estrito ponto de vista de nossas condições presentes, mas de um ângulo mais amplo.
Os fatos com os quais estamos lidando são diversos. O sistema deplantation do sul dos Estados Unidos trouxe para o país um grande contingente de população negra. Considerável mistura ocorreu entre senhores brancos e mulheres escravas durante o período da escravidão, de forma que o n ú m e r o de negros puros foi diminuindo continuamente, e a população de cor tornou-se gradualmente mais clara. Houve também uma certa mistura entre brancos e índios, mas, nos Estados Unidos e no Canadá, isso nunca se deu n u m grau suficiente para transformar essa mistura n u m importante fenômeno social. Com o aumento da imigração,
4 Conferência proferida no encontro da American Association for the
Advancement of Science, Pasadena, 15.6.1931. Franz Boas estava então assumindo a presidência da associação. [N.T.J
Antropologia cultural
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um contingente populacional do sul e do leste da Europa viu-se atraída para os Estados Unidos e atualmente compõe uma importante parcela de nossa população. Esses migrantes diferem entre si segundo alguns tipos, embora os contrastes raciais entre eles sejam muito menores do que os existentes entre índios, negros e brancos. O u t r o grupo chegou ao nosso país com a imigração do México e das Antilhas, parte deles de descendência sul-européia, parte de descendência