Raça e gênero
A desigualdade social, na sociedade contemporânea, é um fenômeno que ocorre em quase todos os países do globo, guardadas suas proporções e dimensões. É desencadeado, principalmente, entre outros motivos, pela má distribuição de renda em uma população, onde se concentra a maioria dos recursos nas mãos de uma minoria abastada da sociedade e, consequentemente, o melhor e maior acesso a subsídios econômicos, educacionais, de saúde e segurança. Contudo, para além da questão econômica, como mecanismo gerador de hierarquias sociais, outros elementos se coadunam a ela formando complexas teias de disparidades. Entre esses outros elementos se destacam as desigualdades raciais e de gênero. Os países ocidentais compartilham uma historiografia marcada por acontecimentos que causaram violência, opressão e subjugação de diferentes povos e segmentos sociais. Sabe-se que relações políticas e de poder levaram a usurpação de territórios e escravização de povos, que se ampliou a partir do período colonial iniciado no século XV. No entanto, a partir do século XIX, os empreendimentos da violência colonial passaram a ter a legitimidade de várias disciplinas ditas científicas. A antropologia, sociologia, biologia e medicina contribuíram, em maior ou menor grau, para legitimar a subjugação dos povos, principalmente, africanos e asiáticos. Tal legitimação ocorreu através da construção de perspectivas científicas como as relacionadas à eugenia. No que tange as relações de gênero, sabemos que o mundo ocidental, constituída em consonância com a ordem cristã, tradicionalmente está pautado em hierarquias que definem as mulheres, assim como aquilo que é considerado pertencente ao feminino, como elementos inferiores, de menor valor. O Filme “Vênus Negra”, do diretor Abdellatif Kechiche, representa bem os referidos cenários, pois revela a ação da ciência na construção das hierarquias de gênero e raça. Em entrevista, a atriz que