Rayuela e seus Rios Metafísicos

1839 palavras 8 páginas
Rayuela e seus rios metafísicos

Influxos de consciência que perpassam e arrebatam. A existência que se confunde a um labirinto, a tentativa dos eus de alcançarem o centro, desvendarem o mistério - “O único mistério é haver quem pense no mistério” (PESSOA, 2010, p. 39). O uso da metáfora do jogo para salientar a dificuldade e os percalços de suas reconstituições combinatórias. A brincadeira dicotômica fadado ao acaso: o confinamento infernal às questões ontológicas e a angústia do ser-para-a-morte, a busca ao transcendentalismo idílico que os encaminhe ao céu.
Amálgama fora do tempo, para além de qualquer tradição oculta, Rayuela, ou O Jogo da Amarelinha, é muitos livros, sobretudo dois livros, como definiria seu autor Julio Cortázar, capaz de sofrer genuínas metamorfoses ovidianas de acordo com a apreensão de seu leitor-co-autor, intérprete de signos insubordinados aos quais se podem atribuir sentidos variados. A trama de multíplices tensões dinâmicas é construída por intermédio de permutações, de (re)combinações entre capítulos, entre palavras, entre códigos que aniquilam qualquer forma de convencionalismo e ganham semiose infinita.
O romance não coloca as personagens na situação, mas instala a situação nas personagens. Em lugar de propor a natureza exterior como modelo, a ação da mente humana na configuração de harmonias torna-se o fundamento da obra, porque, a Cortázar,interessavam os seres em si, sua proporções psicológicas, o dasein, sua maneira de portar-se diante do mundo, suas relações, como se acaso fossem mais reais e mais importantes que um discurso narrativo bem estruturado. Isto confere à obra uma representação expressiva centrada na dimensão psicológica de suas personagens (o ser-em-si), suas mentes em constante tropismo – segundo Aristóteles, “se algum corpo está em movimento, é porque está sendo movido por alguma coisa”, e o que os impele à cinética é o objetivo de alcançar o céu por intermédio de uma jornada para a evolução do eu -, suas

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