Ratzão

rcos Lanna

O objetivo deste artigo é mostrar o lugar e o sentido teórico-explicativo da categoria "indivíduo" na obra de Malinowski. Esse tema, que poderia parecer de interesse restrito aos antropólogos, é em verdade fundamental para a compreensão do alcance de diversas teorias econômicas, sociológicas, históricas e psicológicas que tomam a sociedade como universo atomizado, fragmentado, como as que se fundamentam na idéia de "escolha racional", individual ou coletiva. O que Malinowski fez – e nisso seu exemplo vem sendo reproduzido quase que indefinidamente por inúmeros cientistas sociais – foi renovar essas teorias, redefinindo esse "átomo".

Irei, assim, propor uma reinterpretação da obra do velho mestre do funcionalismo inglês que implica ao mesmo tempo uma discussão sobre a interdisciplinaridade nas ciências sociais. Para tanto, analisarei os Argonautas do Pacífico Ocidental, assim como alguns argumentos de comentadores de Malinowski. O artigo mostrará como um determinado entendimento da categoria "indivíduo" permeia a abordagem da troca de Malinowski, concluindo com uma comparação de tal abordagem com aquelas de Marcel Mauss e Claude Lévi-Strauss, autores que souberam relativizar melhor a categoria em questão. Essa comparação parece necessária para complementar a reavaliação da obra de Malinowski que proponho neste artigo.

Note-se que não se propõe aqui uma análise dos próprios conceitos de indivíduo e individualismo; ao contrário, essa análise, tal como desenvolvida por Louis Dumont (1966 e 1976), será um pressuposto deste artigo. Note-se ainda que a discussão sobre a interdisciplinaridade nas ciências sociais estará presente de modo mais implícito que explícito, aparecendo como pano de fundo do artigo; a questão a ser aprofundada em maior detalhe será, obviamente, a da categoria "indivíduo" em Malinowski. Irei, entretanto, propor um contraponto entre a obra de Malinowski e a economia clássica (penso especialmente em Adam Smith), assim como um