Racismo
Brasil: a nova institucionalidade no combate à desigualdade racial
Alexandre Ciconello
O racismo é a chave para se entender e superar a reprodução da pobreza e das desigualdades sociais no Brasil
Mário Theodoro 1
Contexto
Reconhecendo o racismo existente na sociedade brasileira
Quando perguntada como o racismo opera na manutenção das desigualdades raciais no
Brasil, Edna Roland2, conhecida militante do movimento negro e relatora da III
Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada, em Durban, na África do Sul, em setembro de 2001, comparou o racismo no
Brasil à Hidra de Lerna, ser mitológico de várias cabeças. Quando se arranca uma das cabeças, logo nasce outra e mais outra, em vários lugares e posições. O racismo, para ela, está entranhado nas relações sociais no Brasil. Uma outra característica é que a expressão do racismo se modifica com o tempo, manifestando-se em diferentes e novas formas, gerando e mantendo intacta a perversa estrutura de desigualdade entre a população negra3 e branca no país.
O racismo é identificado e reconhecido pela população brasileira. Uma pesquisa de opinião realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2003 (Santos & Silva, 2005), demonstra que
87% dos brasileiros/as admitem que há racismo no Brasil, contudo apenas 4% se reconhecem como racista. Podemos extrair duas conseqüências desses dados: a primeira é que o racismo existe não pela consciência de quem o exerce, mas sim pelos efeitos de quem sofre seus efeitos. A segunda conseqüência é que o racismo no Brasil, embora perceptível, se localiza sempre no outro, nunca nas práticas cotidianas de seus agentes, o que torna ainda mais difícil sua superação.
Este estudo de caso foi escrito como contribuição ao livro From Poverty to Power: How
Active Citizens and Effective States Can Change the World, Oxfam International 2008. Ele foi publicado para compartilhar amplamente os