Quatro caracteristicas da religião medieval
A primeira e a mais essencial é o caráter profundamente escriturístico da vida religiosa. A Sagrada Escritura, a Bíblia, é sem dúvida alguma conhecida pela generalidade dos homens, ao menos por alto. Nos conventos e nas universidades lêem-se muitos outros textos, especialmente os dos Padres da Igreja e em particular Santo Agostinho, mas o que o conjunto dos fiéis conhece é o Evangelho, que é o próprio Cristo ensinado e manifestado; é o restante do Novo Testamento, que evoca os começos da história cristã e que, no Apocalipse, desemboca no misterioso amanhecer do além; e é o Antigo Testamento porque, segundo uma concepção herdada dos Padres da Igreja e universalmente difundida, os seus personagens e episódios contêm o anúncio profético e a prefiguração do Novo Testamento.
A prova de que os cristãos da Idade Média conheciam as Sagradas Escrituras está nas esculturas e nos vitrais das catedrais. Por que motivo os mestres-de-obras teriam multiplicado as páginas dessas “bíblias de pedra” e desses evangelhos transparentes, se os que freqüentavam esses edifícios só podiam ver nelas um enigma? Já se disse que a catedral “falava aos iletrados”, o que é o mesmo que admitir que estes eram capazes de compreender a sua linguagem.
As Sagradas Escrituras são conhecidas porque são estudadas e ensinadas. Mas isso não acontece apenas nos conventos, onde a lectio divina, parte essencial da Regra de São Bento, deve ocupar um terço do dia; nem apenas entre os especialistas e os intelectuais, que assimilam os textos sagrados a tal