Quando ainda eras minha
Oh, que indelicadeza, nem me apresentei! Sou eu, o Bernardo, ou ‘’Bernas’’, como tu me chamavas… sei que não queres falar comigo, mas já que começaste a ler, podias acabar de o fazer. Outra indelicadeza: a carta não ter remetente! Vais perceber o porquê daqui a pouco.
Lembras-te de como tudo começou? De como nós começamos? Pois, eu lembro-me como se fosse hoje. Lembro-me de todos os pormenores. Lembro-me de cada sorriso, de cada lágrima. Lembro-me de cada trafulhice, lembro-me do romântico que existia. Sim, eu lembro-me de tudo.
Lembras-te quando te beijei pela primeira vez? Chovia. Chovia e a noite era fria. Estávamos a ter uma ‘’mini-festa’’, eu, tu, o Fred, o Alex, a Lisa e o Gabriel. Éramos uns ‘’putos’’, só com 16 anos. Inocentes.
Então, chamei-te. Tinha decidido que ia ser agora. Era naquele momento que eu ia dizer que queria que fosses minha, que queria que fosses a minha pequenina, a minha princesa de olhos esmeralda e cabelo d’ouro. Que queria casar e ter filhos contigo (e agora vem a parte em que tu pensas: ‘’olha-me este lamechas, a fazer-se de sentimental’’, mas acredita que era o que queria).
- Ana, o… olá.
- Hey Bernas, estás nervoso porquê pá?
- É que, ahm… quero-te dizar uma… uma coisa.
- Desembucha rapaz!
- Eu... - ia começar a falar e caí em mim. Como é que alguém como tu, perfeita, iria querer algo comigo, um mero ''puto'', um mero amigo?
- Tu...?
- Não é nada, esquece. Até amanhã.
- Hey Bernas, espera. Esqueceste-te disto.
- Oh, obrigado. Até amanhã.
Já estava quase a virar a esquina quando ela começou a correr em direção a mim.
- Eh puto, espera!
- De que me esqueci desta vez? - exibi um sorriso sarcástico, só porque sim.
- Disto.
E puff! Comecei a ver tudo a sorrir, os cães, os pássaros. De repente, o frio tinha deixado de existir, a chuva já não caía, os pássaros chilreavam, enquanto voavam de árvore em árvore. Estava no paraíso.
- Esqueceste de me dar o beijo de despedida, puto.
- Isto está mesmo