Qualquer coisa
Slogans como “cada um faz a sua parte” compõem o marketing de empresas e indústrias. A reciclagem, por sua vez, tende a ser apontada como a principal solução para o problema, enquanto a produção do lixo tende a ficar em segundo plano ou sequer ser discutida. “A reciclagem é um bom conceito. Mas não adianta investir nisso sem, ao mesmo tempo, questionar o modelo de produção e consumo que temos, e que ainda é o da aquisição e descarte permanente de produtos. É como se a reciclagem funcionasse como garantia de que é possível consumir mais e mais”, diz Luciane Lucas dos Santos, socióloga e pós-doutoranda do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal.
A obsolescência programada – quando produtos são concebidos pela indústria para se tornarem inutilizáveis num curto prazo de tempo – é expressão da lógica de consumo vigente, marcada pela aceleração, pela busca do novo, pela urgência e pelo desperdício. Paradoxalmente, acumulação e descartabilidade combinam-se na configuração da economia global: enquanto países africanos enfrentam crises humanitárias relacionadas à falta de alimentos e à fome, na Europa e nos Estados Unidos toneladas de carne, legumes e cereais são jogadas no lixo ou mesmo queimadas para que o preço dessas commodities mantenha-se elevado no mercado financeiro.
“A produção de lixo que temos hoje diz muito sobre o nosso modelo de desenvolvimento e, por isso, não é possível pensar o consumo desvinculado da