Pão Frances
A origem popular do pãozinho mais famoso do Brasil (Márcio Cotrim*)
Também chamado de pão de sal no Rio de Janeiro, pão careca no Pará, pão jacó em Sergipe, pão carioquinha no Ceará, cacetinho no Rio Grande do Sul e outras denominações Brasil afora.
Até o fim do século 19, o pão mais comum no país era completamente diferente. Tinha miolo e casca escuros, uma versão próxima do pão italiano em textura e sabor. Na época, os viajantes da burguesia brasileira ao exterior voltavam de suas temporadas na Europa descrevendo um saboroso produto para os padeiros daqui, que tentavam reproduzir a receita de um curioso alimento denominado pão francês brasileiro. A elite da república tupiniquim, recém-instalada, favorecia a difusão de usos e costumes de Paris como a moda francesa e a prática do consumo de bebida em mesas dispostas pelas calçadas.
Na então capital brasileira, surgiam cafés e confeitarias que tentavam reproduzir o hábito francês de servir com estilo e elegância e as padarias que ainda produziam um pão de casca e miolo escuros começaram a ser convencidas a reproduzirem o pãozinho de casca dourada e miolo branco dos franceses. Os padeiros, pela descrição dos viajantes, aderiram ao chamado pão francês.
Até hoje, quentinho e recém-saído do forno, ele tem aroma incomparável e é perfeito para receber uma camada de manteiga ou de queijo e o que mais a criatividade inventar.
Consumido principalmente no café da manhã e no lanche da tarde, essa delícia se consolidou entre nós. Agora, uma dica: não se exponha ao ridículo de pedir pão francês na França – você estará dando uma rata. Ou, como hoje se diz, pagando um mico.
Fonte: Revista Língua Portuguesa. Ano 9, Nº 111. Janeiro de 2015.
* Autor, dentre outas obras, dos livros O pulo do gato I, II, III e IV (Geração Editorial)