Psiquiatria do Desenvolvimento
Os transtornos mentais altamente prevalentes apresentam grande impacto socioeconômico pela morbimortalidade, incapacitação e redução de DAILYs, (dias uteis com qualidade de vida) merecendo atenção em políticas de saúde pública e em investimentos que busquem sua prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação (Andrade, 2011). Atualmente a recuperação total de tais condições é limitada, justificando um enfoque preventivo, além do diagnóstico e tratamento precoce. Neste contexto, e mediante o pressuposto de que muitos transtornos mentais são decorrentes de alterações no neurodesenvolvimento, a psiquiatria do desenvolvimento compreende uma somatória de esforços interdisciplinares de estudos, como por exemplo, a compreensão do neurodesenvolvimento normal e atípico, a epigenética, e as condições psicopatológicas associadas, bem como estratégias de detecção precoce e de ações preventivas em indivíduos com vulnerabilidade nas fases pré-mórbidas (Miguel, 2008).
O neurodesenvolvimento compreende os processos de neurulação, proliferação celular, migração neuronal, dendrito-sinaptogênese, apoptose e mielinização, que ocorrem em fases temporo-espaciais, diferentes e/ou superpostas, além da maturação de sistemas de neurotransmissores (Guedes,1999; Gogtay,2004). No campo da detecção precoce, evidências revelam que crianças com 11 anos de idade, portadoras do gene 4 APOE, que predispõe à doença de Alzheimer, já apresentam o córtex entorrinal de menor espessura, área anatômica sabidamente alterada na doença anos mais tarde. Um outro campo de estudo é a interação gene-ambiente. O projeto genoma humano identificou 23.000 genes na espécie humana, porém os processos de polimorfismos, os alelos, as mutações, e taa interação conferem milhares de oportunidades. A epigenética (epi de superior ou “condição acima de”) representa a interface gene/ambiente: ocorre detecção do sinal ambiental por intermédio de