Psicopedagogia
Alcebíades Nascimento Silva Junior (UNIANCHIETA/ UNICAMP)
Um rápido percurso histórico no campo da surdez pode evidenciar que este mal-estar-entre-línguas (nos) provocou a desestabilização dos conceitos mais elementares quanto à existência humana – língua, linguagem e pensamento. Houve silêncio na Torre de Babel. Porém, as vozes inaudíveis das línguas de sinais foram emudecidas e camufladas diante do caos lingüístico e social, diante do discurso da clínica, da normalização, da ouvintização5, da homogeneização instaurada pela modernidade que assujeitou e marginalizou os que não tiverem a sorte de nascer “perfeito”. Os surdos, por milhares de anos, reféns no cárcere do preconceito, estereotipados pelos mitos do desconhecimento, estranhamente (re)conhecidos pelos mistérios de uma gestualização incompreensível para os ouvintes, foram, por vezes, objeto de embates filosóficos que os designavam como primitivos, “estúpidos, incompetentes para herdar, casar, receber instrução e de ter um trabalho adequadamente desafiador – tiveram negados os direitos humanos fundamentais (...) negava-se sua condição humana” (Sacks, 1990, p. 25 e 27). Isto porque, socialmente, a surdez física evoca a representação do corpo mutilado, do desejo de integração e inclusão de sujeitos predicados pelo estereótipo e pela normalização (Perlin, 1998). O desejo da inclusão de surdos na sociedade encontra brechas na educação somente a partir do século XVI, quando a alfabetização formal alcançou as primeiras crianças surdas de famílias nobres: “uma tentativa para o reconhecimento destas como pessoas nos termos da lei para garantir a herança de títulos e propriedades de suas famílias” (op., cit., p. 30). Apesar de muitos anos de trabalho, o treinamento auditivo e da fala – requisitos mínimos e fundamentais para a normalidade exigida pelo ouvintismo[1] – não impediu que os alunos de célebres educadores auditivos (Pedro Ponce de Leon