Psicopedagogia

682 palavras 3 páginas
Creio que a queixa das professoras, enquanto funciona como lubrificante da máquina inibitória do pensamento, é favorecida e, às vezes, até promovida, pela própria instituição educativa.
Na medida em que, como mulheres ensinantes, conseguirmos reconhecer e analisar este “sintoma”, poderemos encontrar soluções alternativas.
No trabalho de Esther Moncarz, achei interessante o fato de que, para considerar a função da queixa na mulher, imediatamente ela a relaciona com o trabalho doméstico.
Pretendo, então, a fim de analisar a queixa das professoras, pensar na similitude entre o trabalho doméstico e o trabalho docente feito pela ideologia tradicional.
O trabalho doméstico é visto como inerente à natureza das mulheres; as mulheres estão naturalmente destinadas ao “cuidado” das crianças, e dentro deste cuidado entraria a tarefa de educá-las. Ao considerá-lo de tal modo, lhe é tirado o valor de trabalho produtivo, desvalorizando a tarefa em si, e a quem a exerce.
Por sua vez, as professoras trabalham com crianças e, assim, como desqualifica-se a criança (ou se a endeusa, como outra forma de desqualificação) também desvaloriza-se quem trabalha com elas.
O mesmo ocorre com os pediatras em relação aos médicos, com os psicanalistas infantis em relação aos psicanalistas de adultos, sendo que é mais difícil e complexo, e requer maior preparação teórico-prática, trabalhar com crianças do que com adultos. Inclusive transferencialmente é mais complexo. Por essa razão,
Françoise Dolto diz que só deveria trabalhar analiticamente com crianças quem já trabalhou com adultos.
A tarefa docente suporta uma sobrecarga depreciativa. Por outro lado, por ser uma tarefa considerada dirigida principalmente às crianças, desqualifica-se a quem a exerce. Deleuze diz que “não só os prisioneiros são tratados como crianças, mas as crianças são tratadas como prisioneiras. As crianças sofrem uma infantilização que não é sua. Neste sentido, é que as escolas são um pouco prisões...”

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