Psicopatologia
O conceito de normalidade em psicopatologia é questão de grande controvérsia. Obviamente, quando se trata de casos extremos, cujas alterações comportamentais e mentais são de intensidade acentuada e longa duração, o delineamento das fronteiras entre o normal e o patológico não é tão problemático. Entretanto, há muitos casos limítrofes nos quais a delimitação entre comportamentos e formas de sentir normais e patológicos é bastante difícil. Nestes casos, o conceito de normalidade em saúde mental ganha especial relevância. Aliás, o problema não é exclusivo da psicopatologia, mas de toda a medicina; tome-se como exemplo a questão da delimitação dos níveis de tensão arterial para a determinação de hipertensão ou de glicemia na determinação do diabete. Este problema foi brilhantemente estudado pelo filósofo e médico francês Georges Canguilhem (1978), cujo livro O normal e o patológico tornou-se indispensável nesta discussão.
O conceito de normalidade em psicopatologia implica também na própria definição do que é saúde e doença mental. Estes temas têm desdobramentos em várias áreas da saúde mental, como, por exemplo, em:
1. Psiquiatria legal ou forense: A determinação de anormalidade psicopatológica pode ter importantes implicações legais, criminais e éticas, podendo definir o destino social, institucional e legal de uma pessoa.
2. Epidemiologia psiquiátrica: Neste caso, a definição de normalidade é tanto um problema como um objeto de trabalho e pesquisa. A epidemiologia, inclusive, pode contribuir para a discussão e o aprofundamento do conceito de normalidade em saúde.
3. Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria: Aqui o conceito de normal é tema sumamente importante de pesquisas e debates. De modo geral, o conceito de normalidade em psicopatologia impõe a análise do contexto sociocultural; necessariamente exige o estudo da relação entre o fenômeno supostamente patológico e o contexto social no qual tal fenômeno