1. QUE POSSO SABER? O conhecimento humano não pode ultrapassar o plano dos fenómenos: só conhecemos oque podemos intuir e só nos é possível intuir dados sensíveis. As categorias do entendimento são funções sintéticas que apesar da sua origem não empírica só podem objectivar os dados que a sensibilidade recebeu, porque só os dados sensíveis são objectos para um sujeito. Deste modo, a síntese causal que o entendimento efectua é imanente, não pode prolongar-se para fora do plano dos objectos espácio-temporais. Assim as questões fundamentais da razão (Deus, liberdade e imortalidade) nunca terão resposta científica. Aquilo que verdadeiramente interessava conhecer é-nos inacessível. A metafísica é uma vocação natural da razão humana. Esta não se satisfaz com o conhecimento dos objectos empíricos, procurando o acesso ao incondicionado, ao plano metafísico. Perguntando se o acesso cognitivo às realidades metafísicas é possível, Kant vai efectuar uma crítica, isto é, uma análise das condições de possibilidade a priori doconhecimento humano (Investigação Transcendental). Essa investigação irá conduzi-lo a uma doutrina dos limites da razão, isto é, à afirmação de que a razão fora da referência aos objectos empíricos não pode constituir conhecimentos. Como é a razão o juiz e o réu desta investigação podemos dar-lhe o nome de autocrítica da razão pura. Se o conhecimento absoluto — metafísico — é impossível a vontade ou o desejo de umtal conhecimento não se pode extirpar ou anular. Queremos o absoluto, é esse o nosso destino como seres racionais. Não podendo tornar as realidades metafísicas cognoscíveis estamos "condenados" a uma procura indefinida do Absoluto, a uma "peregrinação" interminável. Enquanto sujeito epistémico ou cognoscente o homem é uma tarefa sempre porcumprir: conhece cada vez mais adequadamente o que pode conhecer querendo conhecer oque não pode. As ideias da razão são a expressão dessa "falha", dessa "carência": ao representarem o Absoluto como