Psicologia USP
On-line version ISSN 1678-5177
Psicol. USP vol.10 n.1 São Paulo 1999 http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65641999000100003 INCONSCIENTE E PERCEPÇÃO NA PSICANÁLISEFREUDIANA
Nelson Ernesto Coelho Junior
Instituto de Psicologia - USP Geralmente lembrada em sua associação com a consciência (como no Sistema Percepção- Consciência, por exemplo), a percepção encontra nas investigações de Freud vários outros destinos. Principalmente nos textos da chamada segunda tópica, mas também no artigo da Metapsicologia de 1915, "O Inconsciente", Freud nos propõe instigantes afirmações que nos aproximam de uma relação entre percepção e inconsciente. Assim, através de um percurso pelas sucessivas formulações freudianas da percepção, este artigo procura favorecer uma melhor compreensão das relações entre percepção e inconsciente.
Descritores: Inconsciente. Percepção. Consciência. Psicanálise. Existem percepções inconscientes? Existem percepções do e no inconsciente? De que maneira inconsciente e percepção se relacionam? Qual o papel representado pela percepção na formação do inconsciente? Estas são algumas das questões que a relação entre inconsciente e percepção poderia suscitar. As respostas a estas questões não são diretas nem enfáticas na obra freudiana. Tampouco ganharam maior elucidação nos primeiros grandes herdeiros de Freud.
Entre inconsciente e percepção é preciso reconhecer que a história da psicanálise fez da percepção o pólo a ser esquecido. Mas os movimentos do pensamento psicanalítico contemporâneo fizeram com que fosse necessário aceitar o trabalho exigido pelo retorno do recalcado. Praticamente excluída da reflexão dos psicanalistas durante várias décadas, abandonada ao lado da consciência como objeto de uma psicologia colocada nas antípodas da psicanálise, a percepção passa a ocupar lugar de destaque no trabalho de vários analistas contemporâneos. Este movimento aparece com maior evidência nas investigações dos psicanalistas franceses, bastante bem