psicologia social como historia
Psicologia & Sociedade; 20 (3): 453-464, 2008
A PSICOLOGIA SOCIAL COMO HISTÓRIA*
Kenneth J. Gergen1
Swarthmore College, Swarthmore, E.U.A.
Tradução de Filipe M. Boechat
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Revisão técnica de Francisco Teixeira Portugal
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
A psicologia é usualmente definida como ciência do comportamento humano e a psicologia social como aquele ramo dessa ciência que lida com a interação humana. Um dos maiores propósitos da ciência é o estabelecimento de leis gerais por meio da observação sistemática. Para o psicólogo social, tais leis gerais são desenvolvidas a fim de descrever e explicar a interação social.
Essa visão tradicional da lei científica repete-se de uma ou outra forma em quase todas as pesquisas fundamentais do campo. Em sua discussão sobre o papel da explicação nas ciências do comportamento, DiRenzo (1966) apontou que uma “explicação completa” nas ciências comportamentais “é aquela que assumiu o estatuto invariável de lei” (p. 11). Krech, Crutchfield e Ballachey (1962) declararam que “enquanto estivermos interessados em psicologia social como uma ciência básica ou como uma ciência aplicada, um conjunto de princípios científicos é essencial” (p. 3). Jones e Gerard (1967) propagaram esta visão: “a Ciência busca compreender os fatores responsáveis por relações estáveis entre eventos” (p. 42). Como
Mills (1969) colocou, “psicólogos sociais querem descobrir relações causais que permitam estabelecer princípios básicos que explicarão o fenômeno da psicologia social” (p. 412).
Esta visão da psicologia é, certamente, descendente direta do pensamento setecentista. Em um tempo em que as ciências físicas produziram contribuições notáveis ao conhecimento, poder-se-ia ver com grande otimismo a possibilidade de aplicação do método científico ao comportamento humano (Carr, 1963). Se princípios