Psicologia Clínica
Dra. Daniela Ribeiro Schneider
O nascimento da clínica enquanto domínio da experiência e da racionalidade médica é, certamente, um fenômeno histórico e, portanto, datado. O final do século XVIII e o início do século XIX irão oferecer o cenário científico, social, político, necessário à constituição da medicina moderna e sua clínica, como bem demonstrará Foucault (1987).
O sentido etimológico da palavra clínica vem do grego kliné, que significa cama ou leito. Daí decorre uma de suas significações mais tradicionais em medicina: a concepção de que o saber médico é formado ao pé da cama do doente e que, portanto, o ensinamento da arte médica deve se dar junto ao leito do paciente. A clínica tradicional pauta-se, assim, no estudo de casos. Segundo aquele autor, a tendência narrativa que considera a clínica como a origem da medicina e, portanto, como o espaço de acumulação positiva de seu saber, consolidado através do constante olhar sobre o doente, da atenção milenar à doença, confere à clínica uma historicidade contínua, o que viria mascarar uma história mais complexa, ligada ao esforço de organização da medicina enquanto ciência e prática e, dessa forma, ligada à história de suas instituições. Foucault (1987) irá nos mostrar como a “clínica dos casos” - reflexo do empirismo predominante no século XVIII, que preconizava a necessidade de sistematização de diferentes dados e informações, a descrição de situações experimentadas pelo doente, o cruzamento de uma série de fatos isolados a fim de chegar a um quadro da doença, conforme os procedimentos que caracterizaram o pensamento classificatório e que redundaram na constituição dos grandes sistemas e nosologias (Sydenham, Pinel, etc) - irá aos pouco sendo substituída por uma perspectiva experimental e científica, que levará à consolidação da clínica moderna, pautada na medicina anátomo-patológica do século XIX.
A passagem gradual a essa nova