Psicanálise na esquizofrenia
carta ao editor
Psicanálise na esquizofrenia
No artigo sobre tratamento de pacientes esquizofrênicos, publicado por Itiro Shirakawa na Rev Bras Psiquiatr
2000;22(supl 1):56-8, no item Psicoterapia, o autor diz:
“Não se recomendam psicoterapias baseadas em interpretações, com várias sessões por semana e por longos anos”.
Como utilizo a psicanálise que tem essas características – muitas vezes aliada a outras aproximações como psicofarmacoterapia –, e observo um acentuado desenvolvimento emocional em muitos dos meus pacientes, tal colocação contrasta com minha experiência clínica. Ele também não leva em conta importantes contribuições de autores clássicos como Melanie Klein, Bion e Rosenfeld, entre outros, e desenvolvimentos técnicos recentes como os propostos por
Hedges.1,2
Sei que a posição do autor é referendada por toda uma literatura psiquiátrica recente que, baseando-se na provável mas ainda não comprovada etiologia biológica da doença, só reconhece intervenções quantificáveis e que visam uma redução sintomatológica. No desenvolvimento científico, no entanto, muitas verdades, teorias e tratamentos de um dado momento histórico são depois desmentidos ou modificados com a ampliação do conhecimento. Em relação à esquizofrenia, por exemplo, disfunções dopaminérgicas que seriam causais há algumas décadas, são agora vistas como provavelmente secundárias a patologias estruturais ou de desenvolvimento cerebral.3
Colocações como as do autor que levam em conta apenas uma tecnologia privilegiada, no atual momento histórico, marginalizam importantes contribuições das ciências humanas no lidar com a complexidade do homem e suas doenças mentais”. Isac G Karniol
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