Psi criminal freudiano
O corpo e o eu são inseparáveis. Desenvolvem-se juntos. Um “nasce” apoiado ao outro, assim como a pulsão se apoia no instinto e as funções psíquicas nas biológicas ou somáticas. Não há como ter um eu sem ter havido antes uma noção corporal. Na medida em que o eu se desenvolve o corpo o acompanha.
Desde os escritos pré-psicanalíticos, já é possível ver Freud subvertendo o corpo biológico. A concepção freudiana do corpo inaugura uma modalidade corporal diferente daquela que vigorava em sua época. Freud postula, desde o início de seu trabalho, um corpo erotizado, erogenizado, que é também auto-erótico e pulsional. E Freud faz isto por meio de seus estudos sobre a histeria. É nos sintomas histéricos que se pode observar o surgimento de uma nova forma de se olhar para o corpo, diferente da vigente até então.
No “Manuscrito E” (1894), por exemplo, quando faz a distinção entre conversão e somatização, afirmando que na conversão a descarga de excitação se dá por uma via inadequada, no caso uma inervação somática, enquanto na somatização, ao contrário, tem-se um acúmulo de tensão que não consegue se descarregar psiquicamente e que por este motivo fica retido no domínio físico, Freud já fornece indícios de que o corpo com o qual a Psicanálise trabalha é um corpo outro que não o simplesmente anatômico. Uma vez que o corpo que se apresenta na histeria é um corpo fantasmático que não se confunde com o anatômico, no qual a anatomia é bem definida, mais objetiva e nomeável: asma, úlcera gástrica, etc.
A histeria é, assim, o que melhor caracteriza o corpo nos primórdios da Psicanálise, isto é, são os fenômenos histéricos de conversão que atestam o caráter erógeno e representacional que distingue o corpo nesse momento do percurso freudiano.
De acordo com Freud, em “Neuropsicoses de defesa” (1894), “na histeria, a representação incompatível é tornada inócua pela transformação de sua soma de excitação em alguma coisa somática. A