Prometeu acorrentado
Ésquilo
Prometeu Acorrentado
Ésquilo (c. 525 AC-456 AC)
PERSONAGENS
O PODER
A VIOLÊNCIA (personagem muda)
VULCANO
PROMETEU
CORO DAS NlNFAS, FILHAS DO OCEANO
O OCEANO
Io, FILHA DE ÍNACO
MERCÚRIO
Nos rochedos da Cítia. O PODER, a VIOLÊNCIA, VULCANO e PROMETEU
O PODER - Eis-nos chegados aos confins da terra, à longínqua região da Cítia, solitária e inacessível! Cumpre-te agora, ó Vulcano, pensar nas ordens que recebeste de teu pai, e acorrentar este malfeitor, com indestrutíveis cadeias de aço, a estas rochas escarpadas. Ele roubou o fogo, — teu atributo, precioso fator das criações do gênio, para transmiti-lo aos mortais! Terá, pois, que expiar este crime perante os deuses, para que aprenda a respeitar a potestade de Júpiter, e a renunciar a seu amor pela Humanidade.
VULCANO - Para vós, Poder e Violência, — a ordem de Júpiter está cumprida; nada mais resta a fazer. Quanto a mim, sinto-me sem coragem para acorrentar pela força a um deus, meu parente, sobre esta penedia, exposto à fúria das tempestades! Vejo-me, no entanto, coagido a fazê-lo, pois seria perigoso esquecer as ordens de meu pai. Preclaro filho da sábia Têmis, é bem contra minha vontade, e a tua, que te vou prender por indissolúveis cadeias, a este inóspito rochedo, de onde não ouvirás a voz, nem verás o semblante de um único mortal; e onde, queimado lentamente pelos raios ofuscantes do sol, terás adusta a epiderme; onde a noite estrelada tardará a poupar-te à luz intensa, assim como o sol tardará em secar o orvalho matinal. Oprimir-te-á o peso de uma dor perene, pois ainda não nasceu, sequer, o teu libertador. Eis a conseqüência de tua dedicação pelos humanos; como deus, que tu és, fizeste aos mortais uma dádiva tal, que ultrapassou todas as prerrogativas possíveis. Como castigo por essa temeridade, ficarás sobre esta rocha terrífica, em pé, sem sono e sem repouso; debalde farás ouvir suspiros e clamores dolorosos; o coração de Júpiter é inexorável... Um novo senhor é