Projeto
Autoria: Caroline Agne Vanzellotti
Resumo
Para Fromm (1987) somos o que temos e consumimos. Mas e quando o que compramos não é consumido? Muitos consumidores já compraram produtos que acabaram não usando. Esta sensação ainda pouco estudada é compreendida como um exemplo de não uso. Para entendê-la foi realizada uma pesquisa exploratória com mulheres entre 19 e 22 anos, compradoras compulsivas de maquiagens. Os resultados indicam que compra e uso são aspectos distintos do mesmo fenômeno e não devem ser tratados como sinônimos. Apontam ainda que a propriedade do bem comprado (ter) e a experiência de compra (ser) são mais valorizadas do que o consumo.
1. Introdução
O filósofo Eric Fromm (1987) em seu livro “Ter ou Ser?” refere-se à existência de dois modos distintos de experiência: o modo ter (a posse, material de conhecimento) e o modo ser (aquele em que não “se tem nada além do emprego das faculdades produtivamente alegres”, p. 36), nem se anseia por ter alguma coisa. Observa ele que em uma cultura como a atual, em que o “ter” tornou-se objetivo principal, e o tema dominante da vida, “tem-se a impressão de que a própria essência do ser é ter: de que se alguém não tem, não é” (p. 35). Neste modo de existência o relacionamento com o mundo é de pertença e posse, em que o indivíduo quer que tudo e todos, inclusive que ele mesmo, seja sua propriedade.
Fromm (1987) assume que viver sem ter ou consumir alguma coisa é virtualmente impossível e reconhece as qualidades ambíguas do ter e consumir, que ao mesmo tempo em que alivia a ansiedade exige que se tenha e consuma cada vez mais. O consumo anterior rapidamente perde sua propriedade de satisfação ou assume o seu “significado deslocado”, como depois analisou o antropólogo Grant McCracken (2003).
Para Fromm (1987, p. 45) “consumidores modernos podem identificar-se pela fórmula: eu sou = o que tenho e consumo”. E quando o que é comprado não é