Projeto V
Primeiras considerações
Este trabalho é uma fotografia. Uma captura tridimensional que se revela
“quadridimensional” porque foca níveis diferenciados de consciência. É como toda a fotografia, uma interpretação do olhar. O meu olhar artístico, ancestral, feminino. Esta proposição é a minha interpretação da energia latente feminina como desencadeadora de um ser transformado, homem ou mulher. Interpretação esta que se une a tantas outras ao longo d história, em uma rede interminável. Bom que seja assim.
Tratar a realização escultórica do órgão genital feminino com resultado e ponto alto do trabalho permite acessar objetivamente as correlações subjetivas – e são tantas – do gênero em questão. A consequente investigação do processo somático como fonte de significado, aproxima o meu pensamento artístico da “matriz” corpórea da energia feminina como imagem transcendente. Uma espécie de vislumbre do aspecto feminino mental e emocionalmente calcado em nossas histórias herdadas: o pensamento mítico e seu reflexo corporal.
Ao pensarmos em nós mesmos como um processo vivo que organiza e corporifica continuamente tudo aquilo que encontramos pelo caminho estabelecemos uma conexão com imagens conhecidas e desconhecidas que gradualmente nos constroem como indivíduos. Cientes ou não destas imagens, inevitavelmente e de forma “inconsciente” incorporamos estas histórias herdadas em nossa vida. Como ensina Joseph Campbell, “a imagem mítica é o corpo falando a si mesmo a respeito de si mesmo. Os mitos são os scripts das nossas formas genéticas, em linguagem social.
São padrões de corporificação: eles nos mostram como fazer da nossa dotação natural biológica herdada, uma forma pessoal”. O acontecimento de estarmos vivos e em movimento tratado como um arquétipo. A presença deste antigo padrão corporal, que muito mais do que a forma humana ereta, é também a pulsão que experimentamos ao nos reproduzir, nos unir a grupos, nos nutrir e cuidarmos uns