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LIAMES DA VIRTUDE – ÉTICA E MORAL NO MUNDO ROMANO
LEANDRO GONSALES CICCONE
Roma se consumia, depauperada de energias, mas inebriada de luxo e de prazeres, nas rixas estéreis das facções.
Não havia mais ordem no Fórum, nem concórdia no Senado, nem regra nos julgamentos, nem respeito aos superiores, nem limites à jurisdição dos magistrados. 1
Quando, nos últimos anos da ditadura de César, Marco Túlio Cícero enviou ao filho, então estudante em Atenas, um ensaio sobre ética 2 , a República Romana agonizava – e não apenas ela; um modelo de vida pública, uma identidade cultural e moral, também sucumbiam ao poder e às riquezas, às ambições e contradições inerentes a um grande império. Cidade que se tornara senhora do mundo, Roma já então perdia a soberania sobre si mesma, à mercê de indivíduos cuja autoridade repousava em suas legiões.
É num cenário como esse que Cícero propõe uma discussão filosófica com evidente teor de crítica política. Retoma temas caros aos autores clássicos que o antecederam, como
Aristóteles 3 , e que igualmente inspiraram tantos outros mais desde então, tão díspares entre si como Santo Agostinho 4 e São Tomás de Aquino 5 , Friedrich Nietzsche 6 e Rudyard
Kipling 7 . Afinal, a reflexão sobre a ética representa, ao fim e ao cabo, um esforço de disciplina individual – que extrapola em alguns casos para um dado código moral, de alcance social – que pretende a busca de um modelo de virtude capaz de constituir esteios para o caráter, princípios para o convívio. Sob essa perspectiva, um ensaio sobre ética significa um tratado sobre o sentido de dever, tanto público, social, quanto privado, individual. De que maneira, em contextos distintos, esses fatores se combinam, quais suas ênfases e omissões – tal é o material que esse tipo de trabalho oferece ao historiador.
Cícero constitui, desde há muito, fonte inesgotável para os estudos acerca do declínio da