Professor
Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: confrontação entre lógicas socializadoras Daniel Thin
Universidade Lumière Lyon 2, Faculdade de Antropologia e Sociologia
Tradução: Anna Carolina da Matta Machado
Revisão técnica: Lea Pinheiro Paixão
Introdução: refletir sobre as relações entre famílias populares e escola
Em qualquer pesquisa, quando construímos um objeto ou uma forma de abordar e tratar uma questão, o fazemos comumente de maneira a ultrapassar os discursos, os pontos de vista ou as abordagens que nos pareçam precários ou insuficientes. No que concerne às relações entre as famílias populares e a escola, ou à relação das famílias populares com a escolarização, o discurso que mais freqüentemente encontramos nos ambientes educacionais é o discurso normativo, que tende a insistir naquilo que, do ponto de vista da instituição escolar, é percebido como déficit da ação dos pais no que tange à escola, ou seja, como déficits educacionais. Esse discurso é particularmente fértil, uma vez que se dirige às frações mais dominadas e mais carentes das classes populares, aquelas que são mais afetadas pela precariedade da existência. Para escapar a essa visão depreciativa, que não permite levar em conta as relações das famílias populares com a escola e a escolarização, várias abordagens sociológicas podem ser mobilizadas.
Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 32
maio/ago. 2006
Podemos apreender as relações com base nas diferenças de capitais associados às posições sociais, fazendo uso do conceito de capital cultural, criado por Pierre Bourdieu (1979a, 1979b), para analisar as diferenças entre classes sociais nas relações com a escola (Lareau, 1989). Insistimos então na fraqueza dos recursos culturais e escolares que os pais podem mobilizar em suas relações com a escola e para contribuir para a escolaridade de seus filhos, assim como
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