Produzindo saberes mestiços: o círculo de cultura como possibilidade de interação entre a academia e a comunidade
Hercilene Maria E Silva Costa1
Introdução
Ao analisar a relação escola/universidade, percebemos que historicamente a primeira tem se mantido isolada da segunda e esta, por sua vez em nome de uma pretensa neutralidade científica tem se revelado ensimesmada. É notório tanto o desconhecimento que a comunidade tem da realidade acadêmica, como a falta de contato dos universitários com a realidade concreta onde deverão atuar profissionalmente, gerando-se assim a tão criticada dissociação entre teoria e prática.
Essa situação dificulta a mistura que via de regra só acontece numa situação onde os universitários se colocam num patamar superior à comunidade, comprometendo assim uma possível troca de saberes entre acadêmicos e não-acadêmicos. Na busca de preencher essa lacuna, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará teve a iniciativa de realizar, durante o período da greve de 2001, Círculos de Cultura
(CC), que propiciassem um encontro entre públicos diversos, bem como uma reflexão acerca dessa interação.
Influenciado pelo método sociopoético de pesquisa e aprendizagem, que tem na sua fundamentação a valorização da imaginação e a negação da separação entre razão e emoção na produção do conhecimento, nosso grupo reestruturou o círculo de cultura freireano, com o uso de técnicas e linguagens diversas que favorecessem o fluir das heterogeneidades. Inicio minha exposição apresentando considerações gerais acerca do círculo de cultura freireano. Em seguida contextualizo os círculos realizados, explicitando a forma como aconteceram e dando exemplos concretos da interação criativa entre os públicos. Ao final, teço algumas reflexões articuladas a entrevistas feitas com alguns participantes dos círculos.
Considerações gerais sobre o círculo de cultura freireano
Um dos aspectos relevantes da democratização dos saberes remete ao