Primos: uma identidade a ser descoberta
Juliana Bach
Um livro escrito por judeus e árabes foi lançado em maio deste ano, na cidade do Rio de Janeiro. Não se trata de uma excursão de autores oriundos da Terra Santa, mas de uma antologia com 20 autores brasileiros, de ascendência árabe ou judaica, convidados pelas organizadoras Adriana Armony e Tatiana Salem Levy a escrever um conto que falasse da sua relação com essa (ou essas) cultura(s). Os textos foram organizados segundo temáticas que se repetiam: História, Memória, Alegoria e Tradição e ruptura. Também foram encomendadas pequenas autobiografias que revelassem a ligação de cada escritor com a sua tradição. Segundo as organizadoras, a riqueza desses parágrafos foi tanta que elas decidiram publicá-los no final do livro.
A coletânea de contos Primos – Histórias da herança árabe e judaica, parece ter sido criada buscando primeiro um projeto político e, em segundo plano, a questão da literatura. As organizadoras, no texto de introdução, justificam a idéia de juntar em um livro escritores descendentes de árabes e judeus “quase como uma necessidade”. Parece tão óbvio a carência do mundo em ouvir (ou seria a carência dos que escrevem em dizer?) que elas não chegam a discorrer sobre que necessidade é essa, ou pelo menos, necessidade de quem. No entanto, o texto entrega algumas pistas do porquê tal livro se coloca dessa forma. A primeira resgata a origem dos dois povos e justifica o título do livro. Árabes e judeus seriam primos porque ambos são descendentes de Abraão, pai de Isaac e Ismael, que dão início à linhagem dos hebreus e dos árabes, respectivamente (ARMONY e LEVY, 2010, p. 7). Provada essa origem conjunta, para as organizadoras, comprova-se também que os dois povos não são tão díspares como se costuma imaginar. O texto ressalta também valorização do simbólico nas duas culturas, que têm na narrativa um elemento importantíssimo de transmissão das tradições, o que seria um outro ponto de encontro