Precariedade e trabalho
Cinara L. Rosenfield
Introdução
O presente estudo analisa o significado das novas carreiras e percursos profissionais emblemáticos da Sociedade da Informação (cf. Castells, 1999), especialmente os novos contornos assumidos pela organização do trabalho por projetos e gestão de objetivos. Na atual fase do capitalismo dominam as empresas divididas em unidades autônomas, organizadas por “projetos”, com forte redução dos níveis hierárquicos. Para os trabalhadores em todos os níveis, a valorização recai sobre a capacidade constante de adaptação, de flexibilidade e de gestão de suas empregabilidades via o engajamento em projetos sempre transitórios. Boltanski e Chiapello (1999) denominam esse modelo de cité par projets 1, um novo regime de justificação no qual o destaque é criar e se inserir em redes, ser móvel e polivalente. As pessoas valorizadas são aquelas que se engajam pessoalmente em novos projetos, demonstram grande flexibilidade, dispõem de boas competências relacionais para se integrar em redes e agem de maneira autônoma mostrando-se dignas de confiança. O trabalhador passa a ser seu próprio empreendedor, ao dispor de suas próprias competências e seus recursos emocionais a serviço de projetos individualizados. Os quadros superiores das grandes empresas de Tecnologias de Informação (TI)2, nosso objeto empírico de investigação, são exemplares desse
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Contribuiu de maneira decisiva
para este trabalho a bolsista de iniciação científica Thays Wolfarth Mossi (Pibic-CNPq). 1. A noção de cité foi proposta originalmente por Boltanski e Thévenot (1991) como um modelo de justiça ou universo de justificação legítima. Os autores identificam, nesta obra, seis modelos de cités : as cidades inspirada, doméstica, do renome, cívica, mercantil e, por fim, industrial. Boltanski e Chiapello (1999) acrescentarão ainda a cidade por projetos, que inaugura um novo universo de justificação. 2. Utilizamos TI e não TIC (Tecnologias de