Precariedade Laboral, Austeridade e Movimentos Sociais: apontamentos sobre um ciclo de mobilizações
Dora Fonseca1
1. Introdução
A precariedade laboral, o desemprego, e o avanço inexorável da austeridade tornaram-se nos principais motes de contestação, não só em Portugal mas também na Europa. A agitação e o protesto social têm sido uma constante na vida social, pressionando governos e instituições europeias a tomarem medidas que mitiguem os efeitos das dinâmicas que desestruturam a condição salarial moderna. Se os efeitos negativos da precariedade laboral já se faziam notar anteriormente, com a imposição das medidas de austeridade o cenário agravou-se de sobremaneira. Em Portugal, o movimento sindical e o movimento anti-austeridade deparam-se tanto com dificuldades como janelas de oportunidade, às quais não é alheio o período crítico dos pontos de vista económico e político.
O efeito combinado de mudanças ao nível da organização do trabalho e modelos de gestão, a crise do sindicalismo e descrença relativamente ao seu papel, a expansão da precarização do trabalho e do emprego, e os novos modelos de governação produziram mudanças de vulto no plano da ação coletiva. Sob a influência das tendências materializadas nos novos movimentos sociais e em consonância com o resto da Europa, Portugal tem vindo a ser, nos últimos anos, palco de emergência de movimentos ou coletivos dinamizados por trabalhadores precários, que desempenham um papel importante ao nível da inscrição da precariedade laboral nos domínios social e político, bem como na desconstrução dos argumentos que legitimam a imposição da austeridade e a inevitabilidade das transformações em curso. Podemos assinalar a presença de um movimento social que tem vindo a mobilizar a sociedade civil portuguesa: o movimento anti-austeridade.
O movimento a que nos reportamos, muito embora envolva transversalmente o conjunto da sociedade portuguesa, denota uma participação bastante vincada das camadas jovens, em