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Dois fatos essenciais caracterizam a evolução da humanidade no século XIX: a formação de nações de estrutura e espírito cada vez mais unificados, e, de outra parte, uma revolução na demografia e no habitat.
Em extensas regiões da Europa e da América, o indivíduo torna-se cidadão. Progressivamente, é convocado a votar; é, também, chamado a participar de guerras que não dizem respeito apenas a especialistas e mercenários. Suas responsabilidades, teoricamente ao menos, aumentam com a participação na vida pública. A política exterior não interessa apenas às chancelarias; agita, igualmente, a opinião nacional. Por seu turno, a opinião transforma-se em um instrumento de política exterior; previsões apoiam-se na calma ou na inquietação da opinião e utiliza-se dela para sustentar uma política ou pressionar a do adversário; o rompimento da guerra de 1870, com o despacho truncado de Ems, as edições especiais dos jornais, a exaltação repentina do chauvinismo, constituem brilhante sintoma dessa aglutinação nacional e significam que a opinião pública ascende a um novo estádio.
Produz-se, concomitantemente, completa revolução na demografia e no habitat. A população do mundo dobrou entre 1800 e 1900; a da Europa aumentou de 165% entre 1800 e 1932. Concentra-se, sobretudo, nas cidades industriais esse novo povoamento, em cujo proveito se despovoam, em certos países, os campos. Nessa enorme agitação, dissolvem-se as células tradicionais: a casa, que era a moradia, o patrimônio da família, torna-se um lugar de passagem, onde a gente se amontoa; o “bairro” impessoal substitui a aldeia e a paróquia. Essas comunidades intermediárias que enquadravam o indivíduo, constituindo-lhe uma sociedade particular, com história própria, filtrando-lhe os acontecimentos do mundo, desapareceram, deixando-o isolado, desorientado, diante de um mundo nacional em rápida evolução, imediatamente exposta às solicitações exteriores. A miséria, a insegurança da condição obreira, o temor do