POVOS DA REGI O
Por muito tempo, populações na região Nordeste vieram escondendo ou negando rituais, histórias e outros costumes que as identificassem como indígenas, de modo à evitar discriminação e conflitos. Nos últimos anos, porém, essa tendência tem-se invertido e muitas dessas populações, a despeito de continuarem à mercê de preconceitos, passaram a assumir sua indianidade e exigir seus direitos, encorajados pelo movimento indígena organizado e seus aliados, assim como pelo desenvolvimento de políticas públicas diferenciadas a partir da Constituição de 1988. O curioso é que, se até então essas comunidades sofriam discriminação por parte da população regional por serem indígenas, quando assim assumiram passaram a ser discriminados sob alegação falsa de não serem verdadeiros índios. São acusadas de se declararem indígenas apenas por ter acesso à terra, educação, saúde e linhas de financiamento diferenciadas. É provável que, não fosse o acesso a esses direitos, muitos grupos não tivessem interesse em reivindicar o reconhecimento oficial de sua indianidade, mas isso não quer dizer que ela seja infundada, e sim que antes ela aumentava sua vulnerabilidade e agora é uma estratégia de fortalecimento coletivo.
Tal processo foi intensificado na última década, porém teve início já nas primeiras décadas do século XX, quando o órgão indigenista passou a interceder pela demarcação de áreas indígenas no Nordeste, como ocorreu com os Pankararu, Fulni-ô e Potiguara. Estas são algumas entre as numerosas populações que, desde o século XVII, foram expulsas de seus territórios para implantação de fazendas. A grande mobilidade que caracterizava os povos indígenas na época foi tolhida pela política de aldeamento missionários, que reunia famílias de diferentes etnias em um mesmo local, onde eram constrangidas a falar em português e a uma rotina de regras e valores estranhos ao seu modo de vida. Por vezes, aldeamentos pouco populosos eram desfeitos e seus habitantes